quinta-feira, 2 de junho de 2011

Crítica produzida por Cilaine, publicada por Paulo Martins


     Cilaine indica que o procedimento poético-elocutivo que permitirá ao poeta romântico tornar-se o próprio crítico de sua obra, será a ironia que, simultaneamente, é a auto-eliminação da subjetividade, soterrando o sentimentalismo exacerbado e, é, também, a mediadora da anulação da forma poética, explicitando um momento objetivo, ou seja, a ironia da forma, conforme bem expressou Walter Benjamin. O quarto elemento, levantado n’O Belo e o Disforme revê “o maior caso de byronismo explícito das letras brasileiras”, isto é, dentro do trabalho de processamento e de delimitação do código poético alvaresino, é trabalhada uma acurada análise daquilo que, acertadamente, a crítica tradicional já observara na obra de Álvares de Azevedo: o byronismo. Contudo, jamais de maneira historicizada. É oferecida, portanto, uma contribuição de inscrição histórica desse “movimento” de letras, socialmente observado. Destaca a importância de certas sociedades e revistas cujo ideário indicava “a adoção da ‘filosofia’ byroniana, do estilo de vida boêmio, além da crítica, através do gênero ‘bestialógico’, aos falsos poetas”. Esse aspecto do código poético sintetiza a binomia explícita da obra uma vez que o sujeito da enunciação observa “a inapreensibilidade de esferas cósmicas e de que a ciência não é capaz de explicar os mistérios da vida”. Diante da impossibilidade do mundo, revitaliza, pois, certos estereótipos avessos à vida mundana “normal”. A autora prova que a esse procedimento, absolutamente, programático, na obra de Azevedo, corresponde a sublimidade sentimentalmente idealizada da donzela pura, o lírio branco, como contrapartida da binomia que busca o infinito. Na terceira e última parte do livro, Cilaine Alves opera a estilística alveresina, tanto naquilo que há de dualidade (chamou Álvares de binomia), porquanto é resultado dessa expressão, quanto naquilo que há de fusão desse processo, uma vez que a obra resulta una. O estilo, portanto, encerra um sistema proposto, recuperando em forma poética a binomia estilística e, conseqüentemente, uma fusão de elementos que busca o ideal. Para assentar a duplicidade imposta pelo conteúdo, o autor d’O conde Lopo propõe, segundo Cilaine, a operação de dois estilos, ora o baixo e vezo que dá conta da bestialidade byrônica, ora o alto e sublime que recupera o conteúdo de sentimentalismo exacerbado.

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